Manuela
Valente

1941 - 2023

Manuela Valente (Maria Manuela Pereira Valente) – 19th of September 1941 – 17th of October 2023

Kane & Fetterly

Obituary

Manuela Valente

1941 - 2023

Manuela Valente (Maria Manuela Pereira Valente) – 19th of September 1941 – 17th of October 2023

Saint-Lambert – on October 17th, 2023, Manuela chose to put an end to the unbearable pain her life with blindness had become. It had just lost all meaning for a woman who so prized the beauty of everything around her – people, flora, fauna, art – and who read like one breathes.

She leaves in mourning her daughters Alexandra (João), Paula (Jean-Pierre) and Filipa; her granddaughters Joana (Matthew), Tanya (Jean-François) and Andreia (Nicolas); her great-grandchildren Béatrice, Owen, Charlotte, and Lucas; her sister Ausília/Zee; her brothers Victor (Zélinha/Graziela) and Luís (Louise); her nephews and niece Nuno (Hannah), Thiago (Marie-Anne), Sofia (Stephen), Miguel, Marco, and Sergio.

Born in Olhão, Portugal, she lived in Africa from an early age (Belgian Congo, Angola, South Africa, and Mozambique) until her marriage in 1962 to Carlos Mendes. Her four children – Alexandra, Paula, Carlos (1971 – 1991) and Filipa – were born in Portugal.

In August 1978, Canada became her sixth host country. And it was in Canada that Manuela pursued her insatiable thirst for learning and knowledge, sometimes through heartbreaking experiences. Divorced at 40, she had to forge a life for which she was wholly unprepared. From a fervent and practising Catholic, she became a firm non-believer. Her spirituality was inspired by the deep wonder Mom felt toward the natural world.

Her twenty-three years at Scotiabank were, for a long time, a great source of personal affirmation and where she fully acquired her autonomy. Mom was a professional much loved by her colleagues and countless clients.

An environmentalist before the term even existed, Mom abhorred waste and the shameless abuses of the so-called consumer society. Animals adored her; they knew she was a close ally. In recent years, she regularly expressed her outrage against the world’s inaction in countering the harmful effects of human activity.

Her love of words and languages, combined with an undeniable talent for writing – in prose or poetry – leaves us a very rich legacy of her reflections and analyses.

Manuela lost her only son the year she turned 50. A torment which left her hollowed out and, as she so aptly described, “pregnant with his absence”.

The births of her three granddaughters, the reunification with her parents after so many years separated by an ocean, travelling and friendships, all were sources of much joy. But still and always, reading was a devouring passion, television – news, documentaries, cultural programmes – a constant companion, and family reunions the most precious moments.

At 60, Mom discovered passionate love. Although short-lived and traumatic, this second marriage to Pierre Olivier was a wonderful discovery of little-known emotions.

It was also at this time that she was diagnosed with glaucoma. Although relatively controllable for a few years, the aggressiveness of the type of glaucoma from which Mom suffered slowly destroyed her vision and everything she held most precious. Accompanied by increasing deafness, her isolation, loneliness, and feeling of uselessness became unbearable. And, for someone so fiercely independent, the prospect of becoming entirely dependent on others was untenable.

The arrival of four great-grandchildren gave her, for a moment, relief from the anguish that glaucoma caused her. But the darkness of her days had become all-encompassing.

Until the end, her courage was simply extraordinary. She lived alone until the last day, and she will leave us with an endless void…

Adeus Mamã!

A ceremony celebrating her life will take place on November 3rd, starting at 3:30 p.m.: a tree planting with her ashes at the Notre-Dame-des-Neiges Cemetery, 4601, Chemin de la Côte-des-Neiges, Montreal (QC), H3V 1E7. And from 6 p.m., a reception will follow at the Kane Fetterly Funeral Complex, 5301 Décarie Blvd, Montreal, (QC), H3W 3C4.

 

Saint-Lambert – no dia 17 de outubro de 2023, a Manuela decidiu acabar com a dor insuportável que se tinha tornado a sua cegueira. Para uma mulher que tanto valorizava a beleza de tudo à sua volta – gente, fauna, flora, arte – e que lia como se respira, a vida tinha perdido todo o sentido.

Ela deixa enlutadas as filhas Alexandra (João), Paula (Jean-Pierre) e Filipa; as netas Joana (Matthew), Tanya (Jean-François) e Andreia (Nicolas); os bisnetos Béatrice, Owen, Charlotte e Lucas; a irmã Ausília/Zee; os irmãos Victor (Zélinha/Graziela) e Luís (Louise); os sobrinhos e a sobrinha Nuno (Hannah), Thiago (Marie-Anne), Sofia (Stephen), Miguel, Marco e Sergio.

Nascida em Olhão, Portugal, viveu em África desde os 2 anos (Congo Belga, Angola, África do Sul e Moçambique) até ao casamento com Carlos Mendes em 1962. Os seus quatro filhos – Alexandra, Paula, Carlos (1971 – 1991) e Filipa – nasceram em Portugal.

Em agosto de 1978, o Canadá tornou-se o sexto país de acolhimento. E foi no Canadá que a Manuela desenvolveu a sua sede insaciável de aprendizagem e conhecimento, por vezes através de experiências muito difíceis. Divorciada aos 40 anos, teve que construir uma vida para a qual não estava preparada de forma alguma. De católica devota e muito praticante, tornou-se uma descrente convicta. Toda a sua espiritualidade futura era inspirada na profunda admiração que a Mamã sentia pelo mundo natural.

Os seus vinte e três anos no Banco Scotia foram, durante muito tempo, uma grande fonte de afirmação pessoal e onde adquiriu a sua plena autonomia. A Mamã foi uma profissional muito querida e apreciada pelos colegas e inúmeros clientes.

Ambientalista antes mesmo de o termo existir, a Mamã tinha horror ao desperdício e aos abusos descarados da chamada sociedade de consumo. Os animais adoravam-na, sabiam que ela era uma ddefensora imediata. Nos últimos anos, ela manifestava regularmente a sua indignação contra a inacção do mundo para combater os efeitos nocivos da actividade humana.

O seu amor pelas palavras e pelas línguas, aliado a um inegável talento para a escrita – em prosa ou poesia – deixa-nos um riquíssimo legado das suas reflexões e análises.

A Manuela perdeu o único filho no ano em que completou 50 anos. Um desgosto que a deixou de rastos e, como ela mesma tão bem descreveu, “grávida da sua ausência”.

O nascimento das três netas, o reencontro com os pais depois de tantos anos separados pelo oceano, as viagens e a amizade, foram motivos de muita alegria. Mas sempre, constantemente, a leitura foi uma paixão devoradora; a televisão – notícias, documentários, programas culturais – uma companhia constante; e as reuniões familiares os momentos mais preciosos.

Aos 60 anos, a Mamã descobriu o amor-paixão. Embora de curta duração e traumático, este segundo casamento com Pierre Olivier foi, sem qualquer dúvida, uma descoberta maravilhosa de emoções pouco conhecidas.

Foi também nessa época que ela foi diagnosticada com glaucoma. Embora relativamente controlável por alguns anos, a agressividade do tipo de glaucoma de que a Mamã sofria acabou por lhe roubar tudo o que ela tinha de mais precioso. Acompanhado de uma surdez cada vez mais completa, o seu isolamento, a sua solidão e o seu sentimento de inutilidade tornaram-se insuportáveis. E, para alguém indomavelmente independente, a perspectiva de se tornar completamente dependente dos outros era inaceitável.

A chegada de quatro bisnetos veio, por um momento, aliviar a ansiedade que o glaucoma lhe causava. Mas a escuridão dos seus dias tornou-se abrangente.

Até ao fim, a sua coragem foi simplesmente extraordinária. Ela morou sozinha até o último dia e vai-nos deixar um vazio sem fim...

Adeus Mamã!

Uma cerimônia em comemoração da sua vida será organizada no dia 3 de Novembro: às 15h30, a plantação de uma árvore, com as suas cinzas, no Cemitério Notre-Dame-des-Neiges, 4601, chemin de la Côte-des-Neiges, Montreal (QC ), H3V 1E7. A partir das 18h, uma recepção no Kane Fetterly Funeral Complex, 5301 boul. Décarie, Montreal, (QC), H3W 3C4